Francisco: entre o céu e o evangelho

Reflexões de um antigo diplomata creditado no Vaticano sobre o pensamento do papa em face de certos mal-entendidos. "Francisco é alimentado pela doutrina social da Igreja"

13 de Março de 2018

 

Por Eduardo F. Valdés*


"Quando dou comida aos pobres chamam-me de santo. Quando pergunto por que são pobres e vão mal, chamam-me de populista".

 

Parafraseando Dom Helder Câmara, essa frase seria perfeitamente aplicável como resposta ao coro de críticas que o papa Francisco recebe. Em 14 de fevereiro, o jornal El País publicou uma nota do ex-presidente uruguaio Julio María Sanguinetti intitulada "Entre o céu e o bairro", onde rechaça o pontífice por suas críticas ao capitalismo financeiro - porque Francisco, no Peru,  disse que se tratava de um sistema "desumano, que causa dano às pessoas" - utiliza a terminologia de Loris Zanatta para qualificá-lo hoje como "populista-peronista".

Em 25 de março de 2013, 12 dias depois de assumir o pontificado, Sanguinetti fez uma publicação em seu site Correo de los viernes, sob o título Um novo papa: “Ele será um Papa com um forte acento pastoral, dedicado à luta contra a pobreza, como tem sido seu histórico na Argentina. Não é um ideólogo, não é um pensador. É um homem prático que procura ajudar os necessitados com o que está a seu alcance. Tudo indica que enveredará todo seu esforço para as regiões pobres do mundo, aproximando o sacerdote das pessoas ".

 

Francisco cumpriu essas exigências mas, não satisfeito com isso, denunciou as causas da pobreza: " No centro de todo o sistema económico deve estar o homem, o homem e a mulher, e tudo o resto deve estar ao serviço deste homem. Mas nós colocamos no centro o dinheiro, o deus dinheiro. Caímos num pecado de idolatria. A idolatria do dinheiro. A economia move-se pelo afã de ter mais e, paradoxalmente, alimenta-se de uma cultura do descarte: descarta-se as crianças, limitando a natalidade, os anciãos, porque já não produzem, é uma aula passiva, e se descartam os jovens com o desemprego.

 

Descartamos toda uma geração para manter um sistema econômico que já não se aguenta, um sistema que para sobreviver deve fazer a guerra, como sempre fizeram os grandes impérios. Como a terceira guerra mundial não pode ser feita, então se fazem guerras por zonas, o que significa que as armas são feitas, vendidas e, com isso, os balanços destas economias idólatras, que são as mundiais obviamente, vão adiante ... Um sistema que sacrifica o homem pelo ídolo dinheiro".

 

Francisco é alimentado pela doutrina social da Igreja - leia-se encíclicas "Rerum Novarum", de Leo XIII (1891), e a "Quadragesimus Annus", de Pio XI (1931). Ele é um filho do Concílio Vaticano II concebido por João XXIII e da Exortação Apostólica do Beato Paulo VI "Evangelii Nuntiandi" de 1975, de sua aplicação na América Latina na II Conferência Episcopal Latino Americana de Medellín, onde foi decidido que a igreja do continente faz uma "opção preferencial pelos pobres, para sair com eles da pobreza lutando contra a injustiça", de acordo com o cardeal Eduardo Pironio, formador de Bergoglio e secretário da Conferência.

 

Por último, a Conferência de Aparecida, Brasil, em 2007, na qual o então Cardeal Bergolio foi o redator principal, convoca-se aos católicos que "iniciem uma nova Ordem Social na América Latina, com base na dignidade do ser humano e da justiça". No Brasil, disse aos jovens que seu programa consiste nas bem-aventuranças e Mateus 25.

 

Permanecerá na história que "todo mundo tem o direito de ter Teto, Terra e Trabalho" e que o futuro da humanidade "está fundamentalmente nas mãos dos povos" (Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados).

 

O Papa não é marxista, nem populista, nem peronista, ele é um cristão no sentido mais profundo e quer leva adiante a palavra de Cristo e a conduta de São Francisco de Assis.


Vatican Insider- Tradução: Gilmar Pereira

 

*Eduardo F. Valdés é ex-Embaixador da Argentina junto à Santa Sé

 

 

Fonte: http://www.domtotal.com

 

 

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