Não fazem o que dizem

O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

06 de Novembro de 2017

 

Jesus fala com indignação profética. O Seu discurso, dirigido às pessoas e aos Seus discípulos, é uma dura crítica aos dirigentes religiosos de Israel. Mateus recolhe-o cerca dos anos oitenta para que os dirigentes da Igreja cristã não caiam em condutas parecidas.

 

Poderemos recordar hoje as recriminações de Jesus com paz, em atitude de conversão, sem ânimo algum de polêmicas estéreis? As Suas palavras são um convite para que bispos, presbíteros e quantos temos alguma responsabilidade eclesial façamos uma revisão da nossa atuação.

 

“Não fazem o que dizem”. O nosso maior pecado é a incoerência. Não vivemos o que predicamos. Temos poder, mas falta-nos autoridade. A nossa conduta desacredita-nos. Um exemplo de vida mais evangélica dos dirigentes alteraria o clima em muitas comunidades cristãs.

 

“Atam cargas pesadas e insuportáveis e colocam-nas sobre os ombros dos homens; mas eles não movem nem um dedo para levá-las”. É certo. Com frequência somos exigentes e severos com os demais, compreensivos e indulgentes conosco. Sobrecarregamos as pessoas simples com as nossas exigências, mas não lhes facilitamos a aceitação do Evangelho. Não somos como Jesus, que se preocupa em tornar mais ligeira a sua carga, pois é humilde e de coração simples.

 

“Tudo fazem para que as pessoas os vejam”. Não podemos negar que é muito fácil viver pendentes da nossa imagem, procurando quase sempre “ficar bem” ante os outros. Não vivemos ante esse Deus que vê no segredo. Estamos mais atentos ao nosso prestígio pessoal.

 

“Gostam do primeiro lugar e dos primeiros assentos [...] e que os saúdem pela rua e os tratem por mestres”. Dá-nos vergonha confessá-lo, mas gostamos. Procuramos ser tratados de forma especial, não como um irmão mais. Há algo mais ridículo que uma testemunha de Jesus procurando ser distinguido e reverenciado pela comunidade cristã?

 

“Não vos deixeis chamar por mestre [...] nem preceptor [...] porque apenas um é o vosso Mestre e vosso Preceptor: Cristo”. O mandato evangélico não pode ser mais claro: renunciai aos títulos para não fazer sombra a Cristo; orientai a atenção dos crentes só para Ele. Por que a Igreja não faz nada por suprimir tantos títulos, prerrogativas, honras e dignidades para mostrar melhor o rosto humilde e próximo de Jesus?

 

“Não chameis a ninguém, pai vosso na terra, porque um só é vosso Pai: o do céu”. Para Jesus, o título de Pai é tão único, profundo e cativante que não há de ser utilizado por ninguém na comunidade cristã. Por que o permitimos?

 

 

 

Fonte: http://domtotal.com

 

 

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